domingo, 1 de setembro de 2013

as coisas não precisam de você



O dia daquele sim
com cerveja de garrafa no sábado a tarde continua imóvel no tempo de sempre.
Os faróis da paulista e os inocentes do Leblon estão  ao alcance na ponta dos dedos. 
Os aviões seguem partindo pra Belo Horizonte ou pra Porto Alegre e tudo mais que existe nesse mundo segue também  no inexorável caminho do fim.
Essa barra de ferro na grade do parque, a grama feia na beira da calçada, o carro novo na esquina da Brasil com a Rebouças.
Pode escolher entre prestar atenção ou não.
É devagar, mas é.
A terrível noticia é que o mundo vai  mesmo acabar.
Mas não se  desespere;
Esse mundo imenso e cheio de lituânias e ursos polares e essas plantinhas da floresta
Tudo isso vai resistir mais tempo que esse mundinho besta que existe dentro da gente 
e que deixa tudo muito maior do que de fato é.
Essa saudade boba, esse arrependimento, essa culpa,
Esse calo, essa dor, esse sapato apertado, esse calor de primavera que vem por ai, essa coisa chata.
Esse amor passado, esse calor estragado no tempo que fica
não vai.
Fica.
Não vai.
Nem fica.
Vidinha besta essa
Esse trem de ferro apitando.
Essas montanhas de Minas.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

a mulher de cabelo curto


Simples assim como se fosse  fácil ser simples.
A  nuca nua e contornável.
A Cartilagem e as  artérias e as vertebras.
Tudo conspira.
Tudo é  perigo.
O que o cabelo grande esconde fingindo mostrar com luzes, lenços e tintas
e  arcos e milhões de shampoos e mais horas e horas no salão
o cabelo curto declara, escâncara.
Mostra de graça.
Combina demais da conta com banho de cachoeira ou de chuva
E com qualquer vestido dentro do planeta-mulher-de-cabelo-curto.

Existe uma escala quase infinita de possibilidades de tamanhos, cortes,
Cores e estilos e principalmente arrepios visíveis quando o cabelo é curto.
Parece simples Mas é o desafio de uma logica banal Que é oposta a todas as regras dos cabelos longos. 

 os ombros da mulher são a linha de frente de seu encanto. E seu pescoço
( se ela esta viva) tem todo o mistério de uma fronteira
uma terra de ninguém nessa guerra entre a mente e o corpo”
quem disse isso foi
Al Pacino -O Advogado do Diabo-  na pele do proprio
Tentando convencer
Charlize Theron a deixar seus cabelos do  jeito que o diabo assumidamente  mais gosta.

Devia ser obrigatório
uma vez na vida pelo menos
Se apaixonar por uma mulher de cabelo curto.
Já cumpri tao bem minha cota que hoje tenho distanciamento suficiente pra escrever sobre o tema e também me deslumbrar por outros tantos tamanhos.

Mesmo assim, muitas vezes me pego virando rápido pra ver  depressa a nuca nua de uma mulher de cabelo curto.
Devia ser proibido.
Pelo menos pra mim.








sábado, 13 de julho de 2013

tempo é tempero.




Poucas coisas nessa vida não são resolvidas com um copo de água.
Se não resolver 
acrescente gelo.
O maior e melhor anti-inflamatório do mundo é imbatível contra todas as mazelas dessa terra. 
E a água é  solvente universal.
Então pra que problema?
Tome água, compre gelo.
Esqueça , não permaneça.
Mais cedo ou mais tarde 
todas aquelas cenas vão sumir 
igual sujeira no fundo
da panela vazia esquecida na pia.
É só você mesmo que sabe onde o sapato aperta.
Não adianta explicar pro porteiro do prédio
não vale  parar pra pensar na dor daquela cena;
O ônibus do aeroporto azul parando na porta de casa e ninguém descendo e tudo indo embora.
Uma semana inteira de telefone mudo
e o amor da sua vida não dobra a esquina da paulista pra te ver.
E quem acharia que vale a pena?
Lodo no fundo do lago.
Qualquer coisa que a folha vira depois de seca.
Se tudo fosse obra do acaso então tudo seria do jeito certo.
Mas existem sete bilhões de pessoas no mundo e mais as pedras e as plantas e os passarinhos e todo mundo precisando se encontrar, se achar e dizer que bom que eu te achei.
E no entanto alguém que te sabe tanto não quer mais saber de nada.
Como é difícil esquecer um endereço com nome e sobrenome
Tome mais um copo.
Água linda.
Não resolveu?
Pegue o gelo.
Esqueceu?
Chega um hora que o gelo vira agua. 
Esquenta, escorre e também vai embora.
Já foi.
Faz de conta que hoje é sábado e espera.
Vai passar.
Tempo é tempero.


   

sexta-feira, 21 de junho de 2013

grandes erros





Não ter lido o livro de cientologia
nem ter reparado melhor o sapato vermelho.
ter ligado aquela hora da noite.
Ter misturado  cerveja com vinho
não ter ligado aquela hora da noite.
O que se enxerga durante
não é o que se vê depois.
Quando tudo é muito e imenso
é lente de aumento e talvez não seja amor.
E quando tudo fica longe e nublado
Nem sempre é esquecimento.
Pode ser só uma vista aérea.
Cartão postal  na  parede branca do quarto.
Entre o começo e o fim ficam eles;
Os erros.
No século passado eu pensava 
que era jovem demais
pra entender essas coisas que perturbam a vida 
e que precisam ser resolvidas de todo jeito.
Esses foram os primeiros erros.
Quem disse que essas coisas resolvem?
Que o mundo tem que voltar a rodar do lado certo?
Aquela falta de ar, aquele telefone ocupado,
Nunca me recuperei.
Nunca mais voltei de lá.
virei gente grande.
Não consegui ler James Joyce,
nem jogar I ching com as varetas.
Fui de Leducha e Leminsky,
decorei Fante e Torquato, cortei Frida.
Em Eloí Mendes aprendi a tomar vodca com Campari.
Jamais  encontrei meu fio de Ariadne e sempre me perdi na volta.
Na teoria e na pratica na  tentativa e no  erro cheguei ate aqui achando que já sabia o caminho.    
Vou ficando velho e ainda não aprendi.





quarta-feira, 12 de junho de 2013

é desconcertante rever um grande amor.



Era tudo assim
 
do jeito que é um amor antes de deixar de ser.

O tempo do sábado

o braço dele  misturado nas costas dela.

O  CEP o CPF a carteira de identidade dela a dor de dente dele.

O sim e o não dos dois.

O jeito de andar naquela estrada

que já foi do  tamanho do mundo inteiro.

Bilhetes e cartas

musica e poesia

e  flores e cenas de filme.

Um milhão de pedidos de casamento

um trilhão de vezes dizendo vem.

Todas as respostas 
 
todo o orgulho  de cola frágil na parede da sala.

Todas as cidades na porta da geladeira.

Foi tudo pra dentro da caixa verde.

Amassada nas pontas rasgada no meio.

Desaparecida por natureza.

É desconcertante rever um grande amor.

Melhor nem passar por perto.

Mesmo que muitos anos depois.

Ninguém nunca vai saber.

O  tanto que tinha  pra perguntar sobre sobre tudo
 
e  principalmente sobre nada
 
Mas é melhor não.
 
Tinha vontade de rever os vestidos antigos
 
as blusas e o sapato novo.

Ela Mudou o perfume.

Virou  vegetariana

e ele nem sabe se  ela ainda mora naquela mesma rua.

Mas que diferença faz ?

O tempo  passou sobre o tempo.

E ninguém  mais  sabe a  conta exata dos dias depois do ultimo sábado
 
em que eles deixaram de existir. 

Tudo é nada e mesmo assim o mundo não acabou.

ele até pensou em ligar

achou melhor não.

Mandou um recado breve;

"Mesmo sol"

É desconcertante rever um grande amor

mesmo sem enxergar nada.

 

 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

amor inventado

Tudo que existe no mundo que a gente enxerga foi um dia
Inventado.
Tem as invenções da natureza e tem as outras também;  
Janela, porta, parede, rua, retrato, prato
Tudo.  
Repara pra ver, a lista é imensa.

Então, porque não inventar um amor pra melhorar a vida? 
De pulseira colorida, de óculos e cabelo liso
olhando de longe
Escapando de perto
Amor inventado no mais puro acaso
e mesmo assim com nome e sobrenome
com voz pra escutar e assunto bom pra perguntar.   

No século passado seria muito mais difícil;
Paixões do tempo  de telefone fixo, de catalogo de endereço
e do destino pra ajudar  a encontrar de novo
e esperar muito tempo
pra chegar o depois de novo.
Hoje a espera pode ate ser a mesma mas o talvez é diferente.

Tecnologia de ponta pra acelerar calafrios e taquicardias, flores virtuais
Poemas e letras de musica, bilhetes curtos, respostas breves, propostas incertas.
sábados de sol em um outono resfriado.
Um almoço inusitado, um jantar improvável e uma pergunta que nunca foi feita;
- aceita?
A resposta não importa.
Nem o numero do celular importa.
A rede de possibilidades continua intacta. O amor é  inventado
Lembra?
E vai continuar assim amanhã e depois de amanhã também.
Mesmo que nenhum sábado apareça na praça Benedito Calixto.
Tudo flutua nesse tempo
Na estante alta das melhores vontades

A vida real segue em  frente
pronta pra desflutuar
Pra virar invenção de novo quando por acaso
Sem mais nem quando surgirem noticias desse planeta
De pulseiras coloridas
Um contato telegráfico em uma manhã de sono
Um pouco de tudo;
Sem beijos no fim
E mesmo assim começa tudo de novo.  

       

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Belo Horizonte me chama




Belo Horizonte me chama

Vou me embora sexta feira de tarde de maio e de quase sábado.
É o lugar que eu tenho pra voltar.
Já faz  tempo que Belo Horizonte deixou de ser cidade
e virou sentimento.
Volto pra lá religiosamente muito menos do que gostaria.
Tem uma luz fraquinha na janela da rua Itamaracá numero quinhentos e trinta e quatro
que passa depressa por mim na Cristiano Machado.
Belo Horizonte me chama  por todo canto.
Sobe Bahia do lado da Espirito Santo
e pertinho assim da Rio de Janeiro.
Lá  tem um jardim escondido no alto de um prédio em cima do cine Paladium que também passa depressa.
No super- colo- gigante  vou levando Pedro e Rafa  em cima das costas 
na descida e depois na  subida da Goitacazes.
Meu Deus do céu  como eles também passam depressa.  
A casa em que eu sempre morei tem tantos endereços que nenhum correio consegue  entregar nenhuma carta.
É o mapa do meu nada.
Passa bem pra lá da praça da liberdade, desce a Brasil vai pra Piauí.
Aquele prédio com portão verde no meio da rua.
Repara que bem em frente  tem uma arvore triste-triste.
Debaixo dela já não tem ninguém pra me buscar.
Antes tinha
Mesmo assim Belo Horizonte me chama.
Nenhum céu no mundo tem um azul mais cruzeirense.
Nenhuma saudade no meu mundo é dolorosa desse jeito
Nenhuma cidade
Todos os  sentimentos.