sábado, 27 de setembro de 2014

pra ir embora




A febre da despedida toma conta de mim
Varias vezes por dia- por telefone ou por carta
Em cada letra no giro da chave do carro indo e ficando- quando a mensagem acaba quando o telefone desliga e quando o outro dia não chega-
 Febre de Gripe que carrego comigo
Remédio que tomo é de  folha de clorofila
Não é o suco nem o processo das plantas
Não é nada que não exista- é uma folhinha verde pequena e frágil de cheiro breve
De nuvem  de avião . Plantei no fundo do armário escondidinha  que só e nasceu mesmo assim.
Não parece que ela vai resistir muito tempo.
Nasceu onde normalmente não cabem plantas nem cabe verde nem bate sol- e mesmo assim parecendo não existir
Ocupou as gavetas e os cabides
Abriu as portas e trouxe luz-
A febre que eu sinto na despedida vem dela
E o remédio também-
 dizem que essas folhinhas não duram muito.
Eu plantei mas nem sei onde começa sua terra
Também não faço ideia  onde termina.
O que eu sei é que ela existe.
E hoje isso é o bastante
É tudo.
É um tanto.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Mulheres que dizem Sim


O mundo  tem ordens e regras e flores de plástico demais.
Mensagens de texto chegam rápido noticias e aviões também. O vestido de estampa que faz sucesso no verão da califórnia desfila fácil no nosso inverno sem frio.
Tudo vai e volta e vem de novo e atravessa e corta e estraga
e depois conserta e vice versa.
Mesmo assim a parte mais difícil da historia
É exatamente a que parece  mais simples.
A que começa depois do sim.
Quando todas as silabas  curtas foram usadas, 
todas as palavras cortadas e milhões de abraços e beijos com três letras foram distribuídos.
A batalha foi vencida na tela pequena-iluminada do celular.
É quase amor e ninguém duvida e ela disse sim.
Talvez tenha sido só um s.
Um quase. 
Mas agora isso tudo pouco importa. Beijos e beijos, apertos, blusa e meia.
E o amor já passou.
Rápido  assim que ninguém viu nem notou nem procurou. E nem precisa.
vida descomplicada essa que nem de conversa precisa. 
A música é alta o tempo é curto
e o beijo é  breve. 
E não adianta falar de Florbela. 
A vida se abrirá num feroz carrossel” 
e pode ser que seja assim ate o fim.
No século passado existia telefone com fio que ficava sujo de caneta azul e quente na orelha de conversa demorada. Dizer sim também era coisa demorada. As tardes de sábado eram mais demoradas. 
Não é lamuria nem saudade. 
É sobre o tempo que era quando existia catalogo telefônico de milhões de paginas finas e o mundo inteiro rodava em torno da rua Itamaracá 535.
A incrível arte de procurar e achar perguntas e respostas pra encurtar o caminho.
Estrada é pra caminhar.             

 

quinta-feira, 20 de março de 2014

No fim de semana você pode descobrir o amor de sua vida



Não é por causa dos livros na estante, nem pela desordem do armário embutido.
Muito menos pela faculdade, ou pelos  cursinhos de inglês que você fez.  Não vale sua conta bancaria e nem tanto o que você pensa do mundo.
O que importa mesmo é o lugar que você gosta de estar quando não tem nada pra fazer.
Nada mesmo.
É nesse espaço que cabe na medida certa  o amor da sua vida.
Sem nenhuma concessão pra estar ali.
Sem nenhum telefone pra tocar fora de hora, nenhuma mensagem pra chegar na tela indiscreta e nada além de  candy crush
No celular cansado de tantas outras guerras.
Se for sábado é melhor ainda. Nada pra fazer e um mundo inteiro pra acontecer
Ou não.
A rotina mais absurda e sincera tem uma metade da laranja esperando por ela.
O difícil é descobrir de verdade quem que  adora mesmo tudo isso.
avenida  Paulista com chuva,  cerveja de garrafa na esquina da Fortunato, feira na Santa Cecília e café com biscoito de queijo na Pinacoteca.
Cada um tem sua lista silenciosa na cabeça. 
É um checklist diferente  do que se faz quando o olho brilha pela primeira vez.
As letras de musica
as viagens legais
os amigos em comum
a paixão acenando terra á vista.
Não é só isso.
É o sábado de chuva também e tudo que vai além do beijo sem escova de dente.
Quando nem é  preciso dizer sim ou não.
Afinidade de hora vaga e desimportante.
Preste atenção.
De vez em quando o amor se esconde nessas frestas.


terça-feira, 18 de março de 2014

A vida nao é filme



Eu entendi. 
A vida não é filme. 
Mas e se fosse? Você conseguiria ser forte o bastante?
Aquela musica tocando no final de tarde na avenida Paulista e você e todo mundo sabendo exatamente quantos dias fazem desde que aquela historia acabou pra sempre.
Trezentos e sessenta e cinco dias vezes seis
mais um ano bissexto e a metade de outro ano que ainda falta pra conta redonda de sete anos.
Tudo isso sem ver
nem ter noticia
mesmo que você conte todo dia
um dia a mais ou a menos.
Tanto faz.
Nessa vida que é filme,
todo mundo que assiste vai entender
que na verdade a ultima coisa que você quer é se encontrar com ela.
O tempo que passou sobre o tempo,
os amigos de agora, as diferenças de antes e um oceano de distancia já seriam razoes suficientes. 
Mas tem o numero de telefone que você não esquece, 
o endereço e o sábado que volta e meia atormentam e também essa musica 
que toca na radio-cabeça o tempo todo.
Tem ela.
A historia e a vida dela.
As escolhas e os números  de telefone que ela também não esqueceu.
Tem o "nunca mais" que só se desfaz em cena de filme, 
quase coisa de magica.
Mas porque será que vocês dois se encontrariam  nessa cidade gigantesca?
É só por que a vida é filme.
É só por isso.
E se fosse mesmo filme  quem disse que o final seria do jeito que você imagina?

Você tem coragem?
Eu não.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Teresa


Teresa queria ter encontrado um grande amor nesse carnaval que acabou.
No anterior ela também  não conseguiu. Preparou fantasia, vestido vermelho de bolinhas brancas, gastou dinheiro com umas vodcas, enfrentou a fila do banheiro e também  a outra fila pra comprar ficha pra outra cerveja.
Um ritual igual em quatro dias diferentes.
Se tivesse reparado direito teria visto aquele sujeito que tropeçou na sandália dela e nem pediu desculpa.
Era o Daniel.
Sabe o que ele procurava ?
Exatamente o mesmo que Teresa procurava nesse e no outro carnaval também. 
Na mesma cidade, no mesmo bloco no mesmo bar e no mesmo pé que tropeça sem desculpa e sem olho no olho.
O amor escapa sem telefone nem pista.
A responsabilidade do destino é muito grande.
São milhares de Teresas no carnaval  do Recife, outras centenas em Belo Horizonte, Rio de janeiro, Salvador e Manaus.
Até em Santo Antônio da Alegria existem Teresas .
Todas elas esperando o Daniel aparecer. Todas elas sem perceber o quanto ele anda por perto e vice versa.
Não é fácil essa tarefa do destino de ficar vinte e quatro horas por dia ligando pontos intermináveis, costurando historias, dobrando esquinas, achando e perdendo nomes e sobrenomes. Principalmente durante o carnaval.
Não foi dessa vez.
Teresa e Daniel ainda são ilustres desconhecidos um do outro.
Mas é que nesses dias de festa a gente sempre imagina que além daqueles beijos com gosto de cerveja e cigarro é também  possível encontrar uma Teresa linda de vestido vermelho de bolinhas  brancas.
E assim vem a quaresma e o tempo passa e logo chega a semana santa. Da páscoa pra copa é um pulo. Passa julho e  passa o frio vem setembro e depois dezembro  e olha quem aparece ; Teresa e Daniel querendo tudo de novo.