Tinha um tempo em que o
telefone tocava.
Agora existe um outro tempo.
O telefone acende, treme,
canta, inflama, insiste.
Mas pra quem espera faz pouca
diferença.
O silencio do telefone não tem variáveis.
É silencio e pronto.
Difícil enxergar o problema
de um telefone que não toca.
Tantas tecnologias pra
perceber e mesmo assim um tanto de
olhares pra se confundir sempre.
O calor desses dias, a chuva
das aguas de março, os meteoros cruzando o céu da Rússia, o transito, o arroz
com feijão
é tanta coisa pra falar assim
sem respirar e disfarçar tanta espera
que nem dá pra imaginar como seria se o telefone não fosse tão mudo assim.
Mas o telefone não toca.
Se fosse possível pelo menos
perguntar de novo as mesmas coisas de antes, escrever de novo tudo aquilo de
antes, reinventar um mapa astral,
reencontrar sem querer na
esquina.
Mas tudo que que tinha que
ser feito já foi.
O tempo de falar já foi
e é por isso que não adianta ligar.
Agora é preciso escutar o
telefone tocar.
Existem poucas razoes pra
acreditar e passar tardes inteiras pensando em um numero que insiste em não
aparecer na tela pequena do celular.
Acreditar que sim é a parte
mais difícil do não.
Traiçoeira esperança
O sorriso daquela ultima vez,
a despedida naquela festa, a falta de jeito, o suor na palma da mão, o coração
disparado.
E já que o telefone não toca
é impossível saber se esses arrepios são de um ou são de dois.
Você desconfia, você acha,
você tem quase certeza absoluta que esse caso é pagina virada.
Mas suspira e lembra que
nesse mundo de cores e nomes
entre o preto e o branco,
existe uma escala inteira de
cinza.