domingo, 10 de fevereiro de 2013

do fundo da geladeira




Treze de novembro de dois mil e oito.
A letra miúda na tampa branca da ultima prateleira na geladeira que também é branca.
A corajosa geleia de morango de nome difícil que veio
Da Bélgica e que nunca foi aberta.
Venceu o tempo e os novembros e depois se perdeu.
Deixou de ser orgânica, virou enfeite e depois deixou de ser objeto.
Virou um sentimento.
Meu Deus do céu, como dói essa geleia de morango que veio da Bélgica
e que entregou seus últimos pontos em um verão de dois mil e oito.

Morreu a espera de um café da manhã perfeito na mesa de um sábado ao lado flores bonitas.
Passou a vida esperando um sim, eu quero muito.
Um tanto.
A frase nunca foi dita.
A geleia foi e voltou da mesa pra geladeira
E da geladeira pra mesa e vice versa.
Muitos sábados se passaram
e muitos cafés da manha ficaram de noite e começaram e terminaram.
E ela na mesa voltava sem ouvir nenhum sim.
Nem ela nem ninguém ouviu nenhum sim.

Naquele tempo de antes, dois mil e oito era  um dia que ainda demorava muito pra chegar. Dava pra acreditar em muita coisa ate o dia treze de novembro de dois mil e oito.
Mas agora não.
Ela fica ali no cantinho.
Tímida,
invalida,
morta.
Só pra lembrar a vida inteira que poderia ter sido
Se alguém tivesse dito;
Sim.
Eu aceito.


  

Um comentário:

  1. Sim, isso acontece com esses gêneros... Bebidas e alimentos... Diferente de perfumes e roupas, as quais compramos para usar "importadas e caras" sim, as usamos! Mas as geléias, os azeeites, os vinhos... Ahhhh, esses esperam por momentos e pessoas especiais para degustar e dizer : sim, aceito! Faltou isso para a pobre geléia! Rsrsrrs

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